História
Com uma reputação programada e uma ideologia inquisidora, o governante alemão guiou seu povo por um caminho de mentiras
Um dos mais poderosos pilares do Terceiro Reich na Alemanha foi a propaganda nazista. Pensada por verdadeiros marketeiros, as peças alemãs tinham como objetivo disseminar as ideias defendidas por Hitler.
Nem mesmo o líder nazista escondia seu apreço pelas propagandas criadas durante o regime instaurado na Alemanha. A relação íntima entre Hitler e o universo propagandístico, inclusive, não nasceu na Segunda Guerra Mundial.
Muito mais do que peças desenvolvidas para guiar o povo, a propaganda era usada como uma arma e, por anos, moldou a forma de pensar do povo alemão.
Fake news nazista
Durante toda a Segunda Guerra, Hitler foi vendido como sendo um verdadeiro herói alemão. Das mansões aos becos, o mandante era visto como um militar estratégico, condecorado e mais do que capaz de guiar seus exércitos nas batalhas.
Antes o conflito mundial, no entanto, Adolf era descrito de uma forma bastante diferente. Na verdade, quando mais jovem, o cabo se quer chegava perto das linhas de batalha e trabalhava como mensageiro para o 1º Regimento de Infantaria da Bavária.
"Valente e ousado" segundo a propaganda nazista, Hitler da Primeira Guerra Mundial era tido como solitário e mal sabia manusear uma arma de fogo. Por isso, sofria represálias de outros militares. Nascido em 1889, Adolf foi um aluno de genio ruim, adorado por sua mãe e aspirante a pintor ou arquiteto. Seus planos, no início, nunca rodaram em torno do exército, muito menos da vida militar.
A nova carreira
Ao fim da Primeira Guerra Mundial, o mensageiro viu-se livre do conflito, mas já não queria mais deixar os campos de batalha para trás. Assim, quando foi convocado novamente, viu uma segunda chance aparecer na sua frente.
Após a eclosão da Revolução Bolchevique, diversos setores da Alemanha tentaram instaurar uma revolução na nação, entre 1918 e 1919. De repente, o país estava dividido entre esquerda e direita e um novo comando fora criado em Munique.
Com um ambiente político desequilibrado, um departamento de informação foi criado, a fim de influenciar a sociedade civil e outros partidos. Soldados foram enviados para salas de aula, onde aprenderam a ideologia que logo deveriam ensinar.
Nesta leva de militares treinados como ativistas políticos estava Adolf Hitler, jovem que pegou gosto pela coisa. Agindo secretamente, os soldados eram responsáveis por infiltrar suas ideologias na sociedade e, assim, moldar a opinião pública.
Mentalidade fascista
Com o mais recente cargo no pós-guerra, Hitler foi designado para reeducar soldados em campos de prisioneiros. Foi nesse momento em que a ideologia mais decisiva da história passou a ser cunhada pelo alemão, em setembro de 1919.
De repente, sem quaisquer precedentes, Hitler viu nos judeus um grande inimigo. Nos religiosos e negros, ele enxergava oportunistas que só pensavam em ganhar dinheiro. Assim, eles não deveriam ser tratados como pessoas, mas sim como uma doença que precisava ser erradicada - ele os considerava uma "tuberculose racial".
Para que fosse ouvido, então, Hitler criou um modelo de propaganda nunca antes visto que, de certa forma, definiu os eventos futuros. A persuasão tomou conta e mitos foram criados pelo homem que caçava um inimigo inexistente.
Tudo piorou quando Adolf percebeu o poder dos impérios capitalistas. Para ele, os alemães viraram vítimas de um mal que estava tomando conta do mundo. Assim, a perseguição dos judeus, que também eram capitalistas e comunistas, começou.
Antes de toda essa crise, no entanto, o jovem Hitler não mantinha quaisquer desentendimentos com judeus. Ele foi até condecorado por um nos tempos de mensageiro. As ideias anti-semitas apenas surgiram na propaganda - teóricos como Victor Klemperer e Hannah Arendt, por exemplo, o enxergam como um propagandista.
Os conceitos e ideologias de Hitler, no entanto, ganharam abrangência e foram acatados pela massa. Jornais se enfraqueceram, ao mesmo tempo em que as propagandas nazistas ganharam espaço no que ficou conhecido como Lügenpresse, ou Imprensa falsa - ou, para os mais íntimos, a famosa fake news.
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Reprodução: Aventuras Na História
A ação da censura, fortalecida depois do AI-5, atingiu milhares de obras, mas seus autores nunca cederam à arbitrariedade.
Quando medido em números, o ataque promovido pela ditadura militar de 1964, acentuado após a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5) contra a cultura brasileira é arrasador.
O AI-5 deu poderes ditatoriais ao general que ocupasse a presidência da República. Sancionou o estado terrorista dando plenos poderes para a repressão, cuja ação ficava completamente à margem da lei. Agindo sem nenhum controle, de maneira arbitrária, para perseguir, prender, torturar e assassinar lutadores da democracia que nunca aceitaram as imposições totalitárias, cujo exemplo sangrento foi o assassinato, sob tortura, do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de1975.
Nos 10 anos de vigência daquele ato ditatorial foram censuradas cerca de 22 mil peças de teatro (700 foram proibidas na íntegra e outras centenas tiveram algum tipo de corte), disse a pesquisadora Miliandre Garcia ao jornal Valor Econômico, na edição do dia 07.12.2018. Em torno de 500 filmes (muitos estrangeiros) foram proibidos, quase sempre por questões morais ou religiosas – como "Último Tango em Paris" (1972), de Bernardo Bertolucci. Foram também proibidos nada menos de 430 livros, entre eles 92 de autores brasileiros. Na música popular, a sanha policialesca atingiu centenas de canções que tiveram suas letras vetadas, transformando nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso ou Gilberto Gil em símbolos da luta pela liberdade de expressão. A música “Apesar de você”, de Chico Buarque de Holanda, de 1970, tornou-se uma espécie de hino da luta contra a censura e a ditadura – ela se referia ao ditador general Emílio Garrastazu Médici, e foi apresentada à censura sob pseudônimo; quando o ardil foi descoberto, tropas do Exército invadiram a gravadora Philips para apreender e destruir os discos, dos quais já haviam sido vendidas mais de 100 mil cópias.
Outro símbolo da ação policial contra a liberdade de expressão foi a imprensa, com o agravamento da censura depois do AI-5. Jornais como O Estado de São Paulo cobriam os “buracos” abertos pela tesoura dos censores com receitas de bolo (que não funcionavam...), trechos de poemas de Camões ou, no caso do Jornal da República, por figuras de diabinhos. A violência foi mais aguda contra a imprensa alternativa. "O Pasquim", "Opinião" – que teve 5 mil páginas publicadas e 5 mil vetadas -, “Movimento” - censurado desde o número zero, e que a cada vez precisava produzir o dobro de matérias para fazer uma única edição - foram os alvos da ditadura.
A universidade brasileira foi atingida de maneira dura por aqueles que tentaram destruir a liberdade de ensino, pesquisa e pensamento, e 66 professores foram expulsos atingidos pelo AI-5, entre eles o futuro presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sociólogos como Florestan Fernandes e Otávio Ianni, as historiadoras Maria Yeda Linhares e Emília Viotti da Costa - professores de grande mérito cujo afastamento foi uma grande perda para a universidade brasileira.
A luta da inteligência brasileira contra a censura, e as violências cometidas depois da edição do AI-5, foi intensa e nunca cedeu. Foi, diz o historiador Marcelo Ridenti, "uma reação ainda à meia voz, foi se criando uma cultura alternativa muito viva que só fez crescer".
Ameaça semelhante é enfrentada pelos democratas e progressistas brasileiros desde o golpe de 2016 que afastou a presidenta legítima Dilma Rousseff. Desde então se acentua a perseguição contra exposições, obras de arte, o pensamento livre e a liberdade de ensino. Cresce a intolerância contra aqueles que divergem dos golpistas e do pensamento de direita que passou a prevalecer. Intolerância que cresce desde a eleição do direitista Jair Bolsonaro para a presidência da República. E traz novamente a ameaça de medidas do teor do AI-5 contra a inteligência brasileira.
Reprodução do Portal Cabeça Livre e Portal Vermelho | Escrito pelo jornalista e escritor José Carlos Ruy.
A chamada Nova República engatinhava. Sarney assumira no lugar de Tancredo Neves e o País respirava os primeiros ares de liberdade após 21 anos de regime militar. Quatro meses depois da posse, o novo presidente ia ao Uruguai (também recém-saído de um período ditatorial) em sua primeira viagem ao exterior.
Na pauta, as necessidades da sempre falada integração latino-americana e fortalecimento econômico para os novos tempos. “Nossa democracia não é um fim de si mesma nem uma conquista definitiva. Ela é um instrumento das aspirações dos nossos povos, para reconciliar o Estado e a sociedade civil”, discursou Sarney.
Cumpridos os protocolos e cerimônias de praxe, a viagem tinha tudo para terminar num sucesso diplomático. Mas um encontro macabro nas solenidades e recepções acabou se transformando numa das primeiras crises do novo governo. Integrante da comitiva presidencial, a deputada Bete Mendes, conhecida atriz e militante política nos anos de chumbo, se deparou com a cara do horror nas compromissos oficiais: o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, que a torturara nos porões do Doi-Codi, era adido militar na embaixada brasileira em Montevidéu. Ustra também reconheceu a antiga vítima e, junto com a mulher, se aproximava da deputada, procurando mostrar cordialidade e tentando justificar o passado.
Bete Mendes engoliu a seco e, remoendo o sofrimento causado pelas lembranças, decidiu manter as aparências e a tranquilidade exigida pelo cerimonial. Mas tão logo retornou ao Brasil escreveu uma carta ao presidente Sarney denunciando o ex-torturador:
“Não posso calar-me ante a constatação de uma realidade que reabriu em mim profunda e dolorosa ferida... Digo-o, presidente, com conhecimento de causa: fui torturada por ele. Imagine, pois, vossa excelência o quanto foi difícil para manter a aparência tranquila e cordial exigida pelo cerimonial: Pior que o fato de reconhecer meu antigo torturador, foi ter de suportá-lo seguidamente a justificar a violência cometida contra pessoas indefesas e de forma desumana e ilegal como sendo para cumprir ordens e levado pelas circunstâncias de um momento”.
Antecipando-se ao contra-argumento da Lei da Anistia, a carta continuava:
"Sei que muitas vozes se levantarão na lembrança da anistia. Lembro, porém, que a anistia não tornou desnecessária a saneadora conjunção de esforços de toda a Nação com o objetivo de instalar uma nova ordem política no País. O arbítrio cedeu lugar ao diálogo democrático. A Nova República, sonho de ontem, é a realidade palpável de hoje. Mas ela não se consolidará se no atual governo, aqui ou alhures, elementos como o coronel Brilhante Ustra estiverem infiltrados em quaisquer cargos ou funções.
Por isso, denuncio-o aqui. E peço, como vítima, como cidadã e como deputada federal, providências imediatas que culminem com o afastamento desse militar das funções que desempenha no vizinho país. Tenho certeza que uma determinação sua nesse sentido significará, antes de tudo, uma demonstração de respeito ao sofrimento de milhares de brasileiros e uruguaios que acabam de despertar de uma longa noite de arbítrio, na qual a tortura e os torturadores fizeram parte de uma grotesca, triste e dolorosa realidade."
A publicação da carta da deputada, então sem partido após sair do PT por contrariar a diretriz de abstenção e votar em Tancredo no Colégio Eleitoral, provocou o debate sobre a Lei da Anistia e pressionou Sarney, que anunciou o afastamento do militar da função em Montevidéu. Mas os militares resistiram, o Exército anunciou que Ustra permaneceria, e o presidente preferiu se fazer de morto. Como Ustra já tinha substituto escolhido e data para sair antes da denúncia, Sarney optou por deixar tudo como estava. E anunciou que não iria admitir uma “caça às bruxas”, pois a anistia foi para ambos os lados. Os militares, por sua vez, saíram em apoio, com Ustra ganhando elogios de várias instâncias das Forças Armadas e do então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves.
Reafirmando a intenção de não remexer o assunto, na reunião do Conselho Político, Sarney declarou que as denúncias de torturas e a divulgação de lista de subversivos eram uma tentativa de estímulo ao revanchismo e deviam “ser sepultadas definitivamente porque não interessam ao país.”
Dez dias depois da denúncia, Bete Mendes (que nos dias de hoje pode ser vista atuando como a personagem Florzinha na novela Gabriela) - anunciava que dava o assunto por encerrado após ler numa sessão da Câmara dos Deputados a carta que enviou ao ministro Leônidas reafirmando as denúncias contra Ustra e rebatendo nota do Exército que a acusava de querer desestabilizar e ofender as Forças Armadas.
"Fui seqüestrada. presa e torturada nas dependências do DOI-Codi do II Exército, onde o major Brilhante Ustra (dr. Tibiriçá) comandava sessões de choque elétrico, pau-de-arara, 'afogamento', além do tradicional "amaciamento” na base dos 'simples' tapas, alternado com tortura psicológica. Tive sorte, reconheço, senhor ministro: depois de tudo, fui julgada e considerada inocente em todas as instâncias da Justiça Militar, que, por isso, me absolveu; e aqueles inocentes, como eu, cujos corpos eu vi, e que estão nas listas de desaparecidos?”
Bete continuou a carta afirmando que a anistia deveria alcançar os dois lados, mas não podia calar-se “ante uma lamentável premiação, resultante do tratamento como herói, pelo governo anterior, a um torturador de inocentes”.
Reprodução: Acervo Estadão
Carlos Marighella, considerado inimigo número um da Ditadura Militar, o político baiano, escritor e guerrilheiro brasileiro, foi assassinado em uma emboscada do extinto Departamento de Ordem Pública e Social, DOPS, do delegado Sérgio Paranhos Fleury em São Paulo, no dia 04 de novembro de 1969.
Marighella iniciou seus estudos em engenharia civil, na Bahia, mas aos 18 anos despertava para as lutas sociais, filiando-se ao Partido Comunista. Em 1932, aos 21 anos, foi preso pela primeira vez por causa de um poema com críticas ao interventor baiano Juracy Magalhães. No meio da década de 30 foi preso novamente após as lutas da Intentona Comunista.
Em 1937, por conta de uma anistia, foi libertado. Contudo, com Getúlio Vargas no poder com o Estado Novo, o Partido Comunista foi para a clandestinidade. Em 1939, foi novamente encarcerado. Em 1945, houve uma nova anistia no Brasil, o Partido Comunista voltou à legalidade e Marighella foi eleito deputado constituinte. A sua liberdade política, porém, não durou muito. No governo do general Eurico Gaspar Dutra, em 1946, o Partido Comunista foi proibido e Marighella teve o mandato cassado. Em 1953, ele esteve à frente da "Greve dos Cem Mil" e também participou da campanha "O petróleo é nosso".
Durante o governo de João Goulart, o Partido Comunista voltou à legalidade. Marighella, contudo, divergia da linha adotada e, em 1962, fundou o Partido Comunista do Brasil - PC do B. Em 1964, com o golpe militar, voltou a ser perseguido, foi baleado e preso em um cinema no Rio de Janeiro. Sobreviveu e ficou encarcerado por 80 dias, mas acabou solto pela ação de um advogado.
Marighella também passou a divergir no PC do B e acabou expulso do partido. Fundou então a Ação Libertadora Nacional-ALN, que pregava a luta armada. A partir de 1968 participou de ações armadas para conseguir fundos para a ALN. Os integrantes do movimento participaram do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, junto com o MR-8.
Essa época ficou marcada na história do Brasil através da prática de vários Atos Institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que eram contrários ao regime militar.
A Ditadura militar no Brasil teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964, resultando no afastamento do Presidente da República, João Goulart, e tomando o poder o Marechal Castelo Branco. Este golpe de estado, caracterizado por personagens afinados como uma revolução instituiu no país uma ditadura militar, que durou até a eleição de Tancredo Neves em 1985. Os militares na época justificaram o golpe, sob a alegação de que havia uma ameaça comunista no país.
Golpe Militar de 1964
O Golpe Militar de 1964 marca uma série de eventos ocorridos em 31 de março de 1964 no Brasil, e que culminaram em um golpe de estado no dia 1 de abril de 1964. Esse golpe pôs fim ao governo do presidente João Goulart, também conhecido como Jango, que havia sido de forma democrática, eleito vice-presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Imediatamente após a tomada de poder pelos militares, foi estabelecido o AI-1. Com 11 artigos, o mesmo dava ao governo militar o poder de modificar a constituição, anular mandatos legislativos, interromper direitos políticos por 10 anos e demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fosse contra a segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública, além de determinar eleições indiretas para a presidência da República.
Durante o regime militar, ocorreu um fortalecimento do poder central, sobretudo do poder Executivo, caracterizando um regime de exceção, pois o Executivo se atribuiu a função de legislar, em detrimento dos outros poderes estabelecidos pela Constituição de 1946. O Alto Comando das Forças Armadas passou a controlar a sucessão presidencial, indicando um candidato militar que era referendado pelo Congresso Nacional.
A liberdade de expressão e de organização era quase inexistente. Partidos políticos, sindicatos, agremiações estudantis e outras organizações representativas da sociedade foram suprimidas ou sofreram interferência do governo. Os meios de comunicação e as manifestações artísticas foram reprimidos pela censura.
Tortura
A ditadura colocava medo na população brasileira e o resultado foi milhares de assassinatos que matou e sumiu com várias pessoas e torturadores como o chefe do DOI-CODI, coronel do exército, Carlos Alberto Brilhante "Ustra" que pessalmente espancava, estuprava, mutilava orgãos sexuais com ratos, arame farpado, gilete e uma lista imensa com vários outros tipos de torturas tanto em homens, mulheres e crianças.
Ustra foi assassinado em outubro de 2015 depois de entrega documntos e nomes a comissão da verdade.
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Documento de 1974 foi endereçado ao secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger; segundo militares, assassinatos de 'subversivos perigosos e de crianças' deveriam ter continuidade.
O ex-presidente do Brasil Ernesto Geisel, que governou o país entre 1974 e 1979, autorizou que o Centro de Inteligência do Exército (CIE) desse continuidade à "política de execuções sumárias" adotadas durante o governo de Emílio Garrastazu Médici, centralizando a coordenação das ações no Palácio do Planalto, via Serviço Nacional de Informações (SNI). A informação foi divulgada em um memorando da CIA recentemente tornado público.
O documento foi encontrado pelo pelo professor de Relações Internacionais da FGV Matias Spektor. O relatório, enviado em abril de 1974 por William Egan Colbim, diretor da CIA entre 1973 e 1976, para o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, descreve o encontro entre Geisel, que havia acabado de assumir a presidência (em 15.mar.1974), os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino – respectivamente o ex-chefe e o novo chefe do CIE–, e o general João Baptista Figueiredo, então chefe do SNI, que mais tarde também se tornaria presidente.
Durante a reunião, segundo o memorando, o general Milton expôs o trabalho feito pelo CIE durante o governo Médici, destacando os métodos adotados para conter o que chamou de “ameaça subversiva”, em referência aos grupos de resistência política que atuaram no Brasil durante a ditadura militar.
O grupo informa que cerca de 104 pessoas consideradas subversivas haviam sido executadas sumariamente pelo CIE durante o último ano de administração Médici. Milton e Figueiredo advertem a Geisel que essa política “deve ter continuidade” e pedem sua permissão. Segundo o documento, Geisel afirma que a medida possuía “aspectos potencialmente prejudiciais” e pede um fim de semana para refletir.
Em 1º de abril, Geisel concede permissão para continuar com as execuções, mas pediu que “apenas subversivos perigosos" fossem mortos. Além disso, Geisel afirmou que os assassinatos só deveriam ocorrer após Figueiredo aprovar as execuções.
"De tudo o que já vi, é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. Colegas que sabem mais do que eu sobre o tema, é isso? E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?", questiona Spektor. "Este é o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa."
Em nota, o Exército disse que documentos secretos no Brasil referentes à época foram destruídos, "de acordo com as normas vigentes". O memorando completo pode ser visto, em inglês, no site do Departamento de Estado dos EUA. Abaixo, a tradução para o português:
Memorando do diretor da Agência Central de Inteligência Colby para o secretário de Estado Kissinger
Washington, 11 de abril de 1974.
Assunto: Decisão do presidente brasileiro Ernesto Geisel de continuar a execução sumária de subversivos perigosos sob certas condições
1. [1 parágrafo (7 linhas) não desclassificado]
2. Em 30 de março de 1974, reuniu-se presidente do Brasil, Ernesto Geisel, com o general Milton Tavares de Souza (chamado de general Milton) e o general Confúcio Danton de Paula Avelino, respectivamente o chefe que sai e o que entra do Centro de Informações do Exército (CIE). Também esteve presente o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).
3. O general Milton, que falou durante a maior parte do tempo, detalhou o trabalho da CIE contra os alvos subversivos internos durante a administração do ex-presidente Emilio Garrastazu Médici. Ele ressaltou que o Brasil não pode ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e que os métodos extralegais devem continuar sendo usados contra subversivos perigosos. A este respeito, o general Milton disse que cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pelo CIE durante o ano passado, ou pouco antes. Figueiredo apoiou essa política e insistiu em sua continuidade.
4. O presidente, que comentou sobre a seriedade e os aspectos potencialmente prejudiciais desta política, disse que queria refletir sobre o assunto durante o fim de semana antes de chegar a qualquer decisão sobre sua continuidade. Em 1º de abril, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que muito cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados. O presidente e o general Figueiredo concordaram que quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o chefe do CIE consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada. O presidente e o general Figueiredo também concordaram que o CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço geral do CIE será coordenado pelo General Figueiredo.
5. [1 parágrafo (12½ linhas) não desclassificado]
6. Uma cópia deste memorando será disponibilizada ao Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos. [1½ linha não desclassificada]. Nenhuma distribuição adicional está sendo feita.
Reprodução: Opera Mundi